No cenário contemporâneo, a mulher encontra-se entre múltiplos papéis e responsabilidades. Ela é a prova viva de uma evolução social, onde conquistou espaços antes inacessíveis, desafiando preconceitos e moldando novos paradigmas. No entanto, enquanto colhe os frutos de sua determinação, também é confrontada com as exigências da sociedade em que está inserida.
A mulher moderna é um exemplo de resiliência e força, desempenhando com destreza seu papel no mundo profissional, familiar e emocional. Ela transita entre escritórios e reuniões, contribuindo com sua inteligência e capacidade para a economia global. Ao mesmo tempo, ela “tem que ser” uma mãe amorosa e uma dona de casa dedicada, administrando as demandas do lar e garantindo o bem-estar de sua família. Essa habilidade de se dividir entre diferentes esferas é uma demonstração de nossa força interior e adaptação constante.
Contudo, em meio a todas essas responsabilidades, nos deparamos com uma pressão implacável imposta pela sociedade. A ideia de uma “beleza ideal” estabelecida nas mídias sociais, por padrões inatingíveis, corpos esqueléticos e rostos esticados, tem aumentado a autoexigência e insegurança. A indústria da beleza e da moda muitas vezes coloca as mulheres em uma corrida incansável pelo corpo perfeito, fazendo-as questionar sua autoimagem e autoestima. Além disso, existe a expectativa da mãe “perfeita” que deve criar “filhos perfeitos”.
Afinal, se a criança não se comporta como manda a sociedade, é tudo culpa da mãe. Se ela não está bem asseada ou bem arrumada, a culpa também é da mãe. Onde está o pai nessa história? Por que as cobranças sobre um filho recaem todas sobre as mães? Sendo que a mulher moderna já não passa mais o dia em casa cuidando e servindo o lar, ela trabalha e desempenha papéis na sociedade, assim como os homens.
E para completar, também existe a cobrança em manter o casamento bem-sucedido, adicionando outra camada de expectativa. O mito de que as mulheres devem manter todas as áreas de sua vida em perfeito equilíbrio pode criar um fardo emocional esmagador. Afinal, relacionamentos saudáveis exigem esforço mútuo e compreensão, não uma busca incessante pela perfeição de apenas um dos lados.
Um dos grandes problemas é que as mulheres parecem não ter interesse em ajudar umas às outras, nas rodas de conversas falam inverdades que prejudicam o emocional de muitas mães, principalmente as de “primeira viagem”, coisas do tipo “ meus filhos dormem a noite inteira desde bebê”, “nunca tive problemas com sono” ou sempre querem mostrar algo brilhante de sua cria, como se estivessem em uma grande competição.
A falta de apoio entre as mulheres na maternidade está enraizada em um contexto histórico e social que perpetuou a competição e comparação entre elas. As origens históricas da falta de apoio entre o sexo feminino podem ser traçadas ao longo de séculos de sistemas patriarcais que subjugaram e marginalizaram as mulheres, limitando suas oportunidades e perpetuando rivalidades induzidas pela escassez de recursos e pelo desejo de aprovação masculina. Em muitas culturas, elas foram posicionadas como competidoras em vez de colaboradoras, lutando por reconhecimento e segurança em um ambiente onde as estruturas sociais favoreciam predominantemente os homens.
Além disso, narrativas de divisão foram frequentemente reforçadas por normas sociais que restringiam o papel das mesmas a esferas limitadas, acabando com a solidariedade feminina e perpetuando a ideia de que o sucesso individual e financeiro só podia ser alcançado à custa dos homens. Progressos significativos vem sendo feito na desconstrução desses padrões, mas é importante olharmos as origens históricas para entendermos a competição no quesito “criação de filhos”.
Pressões socioculturais, mudança de paradigma e crescimento da conscientização
A sociedade impõe a ideia de que só existe um jeito certo de ser uma “boa mãe”. Isso faz com que as mulheres se sintam julgadas o tempo todo, seja por escolhas no trabalho ou na criação dos filhos. Mas educar os filhos não tem uma fórmula certa. Cada família tem seus próprios valores, e o que importa mesmo é que os pais estejam na mesma página e sigam um caminho que funcione pra eles, com afeto e respeito.
Esse ambiente competitivo gera inseguranças e receios, dificultando a formação de redes de apoio sólidas e fazendo com que a maternidade seja cada vez mais difícil e solitária.
Atendemos a múltiplos papéis simultaneamente, sem qualquer tipo de reconhecimento – mãe, profissional, esposa e dona de casa – e isso deixa as mulheres com pouco tempo e energia para se envolverem no suporte umas das outras. Mas à medida que a conscientização entre mulheres cresce, há um movimento em direção a uma mudança desse paradigma. Chats de apoio online, como “grupo de mães” que promove a empatia e a compreensão mútua, permite que as mulheres se ajudem nessa linda e desafiadora jornada que é maternidade, mas é preciso ficar atenta, pois existem muitos grupos que fazem o efeito contrário.
O tempo passou, e a mulher está cada vez mais alcançando seu espaço no mercado de trabalho, mas os valores da sociedade ainda estão ultrapassados. A sociedade precisa cobrar mais dos pais, principalmente nas tarefas e responsabilidades com os filhos, já que agora eles não são mais os únicos a contribuir nas despesas de uma casa. Não podemos deixar que o valor de uma mulher seja definido por sua aparência, mas sim por suas contribuições e talentos, e valorizar seus méritos. Afinal, as mulheres são verdadeiras heroínas, transitam por tantos espaços com diferentes funções e exercem muito bem cada uma delas. Nós mulheres precisamos nos defender e nos apoiar; esse movimento precisa começar por nós.
Educadora parental, com certificação pela Positive Discipline Association (PDA), mãe do Otto, da Olivia e da Heidi. Especialista em primeira infância, pelo Instituto Singularidades, e Psicologia Positiva, pela PUC RS, tendo participado do Programa de Liderança Executiva sobre Primeira Infância da Universidade de Harvard em 2019. Atuo em parceria com empresas e organizações sociais na formação de pais e educadores na temática de Primeira Infância. Sempre amei crianças e consequentemente sonhava com a maternidade e hoje é o tema da minha atuação profissional! Desde criança me via encantada pelos bebês da família, queria cuidar e aprender sobre eles. Mas foi com 29 anos que entrei profundamente neste universo, engravidei de gêmeos! E me encontrei nessa grande vocação e propósito: acolher, ensinar, e cuidar de crianças. Me senti poderosa quando meus filhos nasceram… como se nada superficial mais tivesse tanta importância! Desde então me dedico a cada vez mais estudar e aprender sobre a temática.