‘Como pode uma mulher depois dos 50 ser carta fora do baralho?’, questiona Mônica Martelli

Diogo Paiva
By Diogo Paiva
4 Min Read

‘Tem um mundo lá fora querendo te chamar de velha e dizer que não é mais pra você, mas a gente precisa sempre lutar por esse espaço. Como pode uma mulher depois dos 50 ser carta fora do baralho?’, questiona Mônica Martelli, em debate sobre mulheres e audiovisual na 9ª edição do Power Trip Summit, encontro de líderes mulheres brasileiras promovido por Marie Claire.

Ao lado da também atriz Isabel Teixeira, da roteirista Luh Maza e da editora executiva de Marie Claire Natacha Cortêz, Mônica seguiu sua reflexão sobre o espaço para mulheres com mais de 50 anos no audiovisual: ‘Mulheres abriram os caminhos para a gente poder vir aqui sem precisar da autorização do marido, mas a gente ainda vive numa sociedade em que o padrão de beleza é a juventude’.

As duas atrizes compartilharam histórias de suas carreiras, que têm em comum o fato de terem atingido o grande público mais tarde do que o esperado pelo senso comum –Mônica com a peça Os Homens São de Marte… E É Para Lá Que Eu Vou e Isabel como a Maria Bruaca, no remake de Pantanal.

‘Quero estar ativa com 60, 70. Enquanto estiver viva, terei história para contar”, completa Martelli.

‘Ainda ocupamos uma cota’
Luh Maza, que é atriz, diretora e roteirista de séries como Sessão de Terapia, no canal GNT, Da Ponte Para Lá, da HBO Max, e mais recentemente chefe de roteiro da adaptação do livro Torto Arado para uma série no streaming, diz que o audiovisual vive um ‘momento ambíguo’ no que diz respeito à diversidade e inclusão no setor.

Se por um lado as personagens femininas sempre estiveram presentes em todas as histórias –de aventura à comédias e romances– até agora elas eram escritas por autores e roteiristas homens, ‘sob um olhar que hoje entendemos que é muito problemático’, diz.

Para ela, quando a indústria começou a entender que essas personagens femininas seriam mais profundas e mais interessantes se fossem escritas por mulheres, houve avanço.

‘Questões de representatividade e lugar de fala são fundamentais para que eu esteja aqui hoje. Mas ainda ocupamos um lugar de cota’, critica, especialmente enquanto uma mulher negra e trans. ‘Muitas vezes, numa equipe de roteiro, uma única mulher ou uma única pessoa preta precisa balizar todas as questões de diversidade de um projeto. Geralmente eu estou nessa função. E enquanto as mulheres não tiverem acesso ao dinheiro, não teremos transformação de verdade’.

Luh Mazza contou que sua maior referência profissional é sua mãe – ‘uma mulher preta que viajou o Brasil representando o Ministério da Educação’ – e dividiu sua preocupação em ser referência para outras mulheres trans, mais jovens: ‘Estou trabalhando para que uma travesti de Olaria (MG) que me vê na revista saiba que ela também pode ser roteirista, advogada, astronauta, o que ela quiser’.

Share This Article
Leave a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *